segunda-feira, 16 de maio de 2011

Lentes de Paula Sampaio desvendam a vida na Transamazônica

“Uma terra sem homens para homens sem terra”: as palavras do presidente General Emílio Garrastazu Médici argumentaram um projeto de modernização para o Brasil e de integração das regiões: a construção da Transamazônica. O ano era 1970. O sentimento: euforia pela vitória do país na Copa do Mundo. O otimismo geral levou muita gente a se aventurar na abertura da estrada e na busca pelo progresso. Utopia, com certeza. Mas que só foi constatada agora, com os olhos voltados para o passado e para o presente. Entre estes olhos, um dos mais atentos é o da fotojornalista Paula Sampaio, que percorreu cidades isoladas, enfrentou a lama e olhou no fundo dos olhos de quem vive lá.

Paula Sampaio, mineira radicada em Belém do Pará, iniciou seu projeto de documentação fotográfica sobre a colonização e migrações na Amazônia em 1990, atenta as consequências socioculturais que a construção da rodovia levou para a região. Mais do que documentar, ela cruzou a linha do tempo, encontrando resquícios de sua própria história, já que aos seis anos de idade havia mudado com a família para uma cidade da região onde se cruzam as rodovias Belém-Brasília e Transamazônica.


Lugares e pessoas foram fotografados mais de uma vez em diversas viagens feitas por Paula Sampaio, que trabalhou por mais de 20 anos para concluir seu projeto.

Calor intenso no verão, muita lama e isolamento no período das chuvas.





A cada foto muitas histórias que se cruzam, contam e recontam por diversos ângulos uma parte da história do país, da memória dos conhecidos “anos de chumbo” até os dias atuais. Homens e mulheres deparam-se com sua realidade e com seu sonho – aquele que ficou pra trás ou o que insiste em se manter vivo, voltado para o futuro. O envolvimento da fotógrafa com o ambiente e com as pessoas resulta numa cumplicidade que se mostra na imagem, como no olhar da senhora Maria do Socorro do Nascimento, da cidade de Picos-PI. Ela diz “Transa o que, minha filha? Como é? Essa Transamazônica...Sei não, não sei mesmo não”. Imagem e depoimento, juntos, traduzem hoje a ingenuidade de muitos que, no passado, viveram em plena ditadura militar sem perceber o contexto político e social.













Maria do Socorro: “Não vou especular, saber pra onde vai, pra onde não vai, só vivo no mundo trabalhando, aí não tenho tempo”. 


A fotógrafa atualmente vive em Belém do Pará, trabalha no jornal O Liberal e tem se dedicado a documentar as comunidades remanescentes de quilombos no Estado do Pará. Além de ter participado de diversas exposições coletivas, também possui três publicações: Terra de Negro. Belém: IAP/Programa Raízes, 2003; Terra de Negro 2. Belém: IAP/Programa Raízes, 2004; e Paula Sampaio – Coleção Senac de Fotografia volume 7. São Paulo: Editora Senac, 2005.


Veja mais fotos de Paula Sampaio: 
http://www.flickr.com/photos/63121448@N05/sets/72157626773471276/


Nenhum comentário:

Postar um comentário