foto: Fernando Antunes
Assistir a uma peça teatral cujo enredo já conhecemos, assim como a evolução dramática de cada personagem até chegar ao final. Este pode ser um dos prazeres ao apreciar a montagem de um texto clássico, desde que esta mostre detalhes que lhe são únicos. É o caso de “Édipo”, adaptação e direção de Elias Andreato. Texto enxuto e ainda com a essência da tragédia grega, cenários e figurinos simplesmente funcionais e bons atores estão entre as qualidades da montagem em cartaz no Teatro Eva Herz.
Tomemos como reflexão a maneira como Pierre-Aimé Touchard se refere a tragédia grega em seu livro O Amador de Teatro ou a Regra do Jogo: “Um teatro imóvel é um teatro morto. Se quisermos que nossas obras primas trágicas se conservem em outros lugares que não apenas nos livros, é preciso ousar fazer com elas o que se deve fazer com os lugares comuns: repensá-los. E neste repensar fomos colocados diante de três atitudes possíveis: ou bem abandonas deliberadamente a tragédia à sorte dos mistérios da idade média ou das pastorais de renascimento, isto é, a ser enterrada num lençol de papel impresso – ou bem continuar um culto ardente, mas esclerosado e reservado a um grupo de fanáticos, cada vez mais fechados neles mesmos – ou bem assegurar a sobrevivência da tragédia, humanizando-a, isto é, traindo-a”.
A encenação de Andreato, sem dúvida, assume a terceira atitude apontada por Touchard. Pra isso recorre a uma adaptação enxuta da obra clássica, sem qualquer excesso que possa escapar até mesmo aos ouvidos mais atentos. O texto conserva o fio condutor da tragédia e promove uma eficaz comunicação com a plateia, sempre atenta à evolução de Édipo, que despenca do poder até a miséria total e exílio de Tebas.
A tragédia conta a história do rei Édipo, que, tentando fugir das previsões de um oráculo, acaba se entregando ao seu próprio destino: matar o pai e casar-se com a própria mãe, Jocasta, que nesta montagem é interpretada por Tânia Bondezan. O diretor colocou em cena somente as personagens que conduzem a trama. O coro, parte marcante na composição de uma tragédia grega, é reduzido a três atores que usam sanfonas e mostram uma eloqüente interferência no ritmo da montagem. Entre estes atores, Nilton Bicudo assume a função de um Corifeu, narrando e comentando a cena.
O cenário assinado pelo diretor somente dá apoio ao elenco que permanece o tempo todo em cena. Os figurinos de Laura Huzak Andreato e Marc Lab são neutros. Não há qualquer elemento material que possa adornar a cena. Pelo contrário, o visual é discreto, ajudando a direcionar a atenção para o elenco, banhado pela precisa iluminação de Wagner Freire.
Até o gestual dos atores é econômico, reduzido ao essencial para a compreensão da trama. Com poucos movimentos, mas intensos e presentes, há uma valorização da fala. É possível “visualizar o texto”, num estímulo à plateia raro de se ver atualmente, neste momento em que é dada à imagem o poder máximo de comunicação. O ator Eucir de Souza, intérprete de Édipo, transita da arrogância ao aniquilamento total, envolvido pelo destino que faz seus olhos derramam humanidade: traição consumada à tragédia, que prenuncia a imortalidade da obra clássica.
SERVIÇO:
“Édipo” está em cartaz no Teatro Eva Herz (Avenida Paulista, 2.073 – Livraria Cultura/ Conjunto Nacional) às terças-feiras, 21h. Até 30 de agosto. Ingressos: R$ 40. Lotação: 166 lugares. Bilheteria funciona de terça a sábado, das 14h às 21h, e domingo, das 12h às 19h. Aceita todos os cartões de crédito. Não aceita cheque. Informações: (11) 3170-4059 - www.teatroevaherz.com.br. Vendas pela internet: www.ingresso.com. Vendas por telefone: 4003-2330. Duração: 70 minutos. Classificação Etária: 14 anos.
ilustração: Elifas Andreato
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