quarta-feira, 31 de agosto de 2011

“A Primeira Noite de um Homem” resiste ao tempo


    


Anos 1960: o homem vai à lua, os jovens não acreditam mais no sonho americano, primeiro transplante de coração é realizado no mundo, o muro de Berlim é construído, os hippies contestam o poder militar e econômico. Nesse contexto é criado o personagem Benjamin Braddock interpretado pelo ator Dustin Hoffman no filme “A Primeira Noite de um Homem” (Estados Unidos/1967), de Mike Nichols.

A primeira imagem é o olhar perdido de Braddock, dentro de um avião, retornando para casa depois de formar-se na faculdade. Logo se vê que ele ilustra bem o sentimento jovial diante de tantas dúvidas sobre o futuro. Vulnerável, ele é seduzido pela Sra. Robinson, mulher do melhor amigo de seu pai, bem mais velha, personagem de Anne Bancroft. Não resistindo à sedução da vida, o jovem desaponta os pais que concentram toda a sua atenção no sucesso profissional e social do filho. Ele acaba se apaixonando pela filha da amante, a jovem Elaine, interpetada por Katharine Ross. Pronto: conflito estabelecido. Agora ele tem que enfrentar a tudo e a todos – principalmente a Sra. Robinson - para viver seu amor.

Dustin Hoffman teve neste filme uma boa oportunidade para ser apresentado ao ambiente cinematográfico, interpretando um personagem que conquista facilmente a empatia do público. Braddock tem dúvidas, medos e dilemas como qualquer um. Além da atuação de Hoffman, recursos da linguagem cinematográfica como a fotografia e a montagem são usados de forma eloquente para transmitir as sensações do personagem.

É visível o mal estar do jovem na festa de recepção oferecida pelos pais. Ele é apresentado aos amigos da família como a promessa de sucesso e ouve conselhos como a necessidade de prestar atenção nos plásticos porque é neles que está concentrado o futuro dos negócios. Os closes no rosto do ator e dos convidados ilustram bem como o jovem se sente pressionado e intimidado na festa.

A direção de Nichols propõe uma fotografia que expressa as sensações do personagem. Isto é notado na cena em que Braddock é obrigado pelo pai a fazer uma demonstração de uso de equipamentos de mergulho na piscina no dia em que completa 21 anos de idade. O que se vê é a subjetiva de Braddock observando o ambiente através da máscara de mergulho, num silêncio absoluto, e em seguida vemos o rapaz no fundo da piscina, parado, somente respirando, solitariamente.

Outro momento em que a fotografia revela o estado do personagem é o dia seguinte à primeira noite de sexo.  Braddock flutua na piscina, mesmo lugar onde já foi vítima de constrangimento, agora sob a luz do sol, emoldurado pelo azul, transmitindo sensação de relaxamento e realização. A música “The Sound of Silence”, de Simon e Garfunkel, acentua o retrato do êxtase.

A montagem também é responsável por bons momentos do filme, como, a sequência em que Braddock sai da piscina e logo aparece entrando num quarto de hotel para, em seguida, movimentar-se dentro da própria casa. O recurso mostra que o jovem, durante um período, está dedicado somente aos encontros secretos, sem se importar com as cobranças sociais.

Para os dias atuais o filme parece fora de contexto porque, afinal, as angústias dos jovens agora são outras e já se constatou que a simples rebeldia não resolve os conflitos do mundo. Mas o amor continua sendo o impulso para a criação de tramas mirabolantes. Além disso, as boas atuações e o desempenho da direção de Nichols valem a experiência.



Dustin Hoffman em atuação marcante num dos primeiros filme de sua carreira

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