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de profissão, pretenso artista plástico durante toda a vida até o último
momento, o homem sem nome se divide entre os impulsos do sexo, a preocupação
minuciosa com a saúde e o sentimento de culpa por não conseguir manter vínculo
afetivo com nenhuma das três esposas que teve, nem com seus dois filhos do
primeiro casamento. Logo nas primeiras páginas em que é descrita minuciosamente
a cena de seu funeral, é possível ter uma ideia das precárias relações
familiares. O livro diz no início que o personagem
morre e isto não diminui o interesse pela trama. Pelo contrário, desperta a
curiosidade em saber os detalhes de como o personagem resistiu ao
enfraquecimento inevitável causado pela velhice.
A
história do homem comum não carrega nada de excepcional. Não existe uma trama
mirabolante. A beleza do livro se concentra justamente na previsibilidade de
tudo o que acontece. Nada surpreende quanto ao enredo, mas tudo é ricamente
descrito. São os detalhes que possibilitam enxergar com clareza os conflitos
que regem a vida do personagem. Na infância ele se sentia feliz por ser
considerado pelo pai como uma pessoa confiável. Na fase adulta, sem conseguir
assumir o modelo perfeito de marido e pai, este homem se vê em contradição. Ele
é comum porque é contraditório e porque, inevitavelmente, é perecível.
O
monólogo interior do personagem descrito pelo narrador traduz a condição
solitária e torna o leitor testemunha de conflitos, desejos sexuais, culpa e
medo. O recurso é usado de forma muito apropriada para mostrar, por exemplo, o
conflito do personagem ao perceber que tem inveja de seu irmão mais velho, de
saúde aparentemente inabalável.
Nada
na velhice compensa a perda do vigor físico. A redução da libido, a julgar
pelas aventuras sexuais da juventude, parece ser uma condenação para o
personagem nos últimos anos de vida. Ele, em divagações solitárias, mostra esta
insatisfação com a fragilidade física. É nesta fase da vida que ele vê uma
jovem correndo na praia e se encanta por ela, talvez não somente pela beleza da
mulher, mas também porque a situação lhe põe em contato com o ímpeto perdido há
muito tempo.
A
velhice do personagem central é contextualizada no período histórico logo após
o ataque às torres gêmeas, ocorrido nos Estados Unidos em 2001. O momento em
que a autoconfiança americana é abalada e que o sentimento de segurança
nacional já não é o mesmo parece criar um ambiente propício para acentuar no
homem sem nome a vulnerabilidade. Seu corpo mostra a decadência trazida pela
idade e o mundo em sua volta já não é mais o mesmo.
Philip
Roth, considerado dos mais importantes romancistas americanos da
contemporaneidade, escreve este livro de forma não linear, mas com habilidade
suficiente para não deixar informações fora de contexto. Na primeira página do
romance temos a descrição física de Phoebe, a segunda esposa do “homem comum”: “alta, magérrima, de cabelo branco, cujo
braço direito pendia inerte ao longo do corpo”. O detalhe do braço direito
ganha explicação quase ao final do romance, numa cena em que ela, numa cama de
hospital, fala ao ex-marido da desgraça que é a impotência física. Este é só um
dos exemplos de como o autor organiza as informações sem se perder nos
detalhes, amarrando cada situação. Este engenhoso embaralhar de fatos sustenta o
interesse pela história que não tem final surpreendente e nem precisaria disso
para tornar o romance interessante.
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